Pós-doutoranda do CCST participa da primeira grande avaliação científica regional da biodiversidade nas Américas
O evento reuniu 80 especialistas internacionais em Bogotá (Colômbia) para mapear e avaliar a situação da biodiversidade na região; um documento global deverá ser publicado em 2019
O encontro que ocorreu entre os dias 20 e 24 de julho, por iniciativa da IPBES – Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (em inglês, Intergovernmental Platform on Biodiversity and Ecosystem Services), tratou de fazer uma primeira avaliação do estado atual da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos nessa região. No entanto, o foco dos cientistas não está apenas na conservação dos recursos naturais, mas igualmente na relação desses recursos com o bem estar humano – esta é uma abordagem fundamental para viabilizar o uso da informação científica nas decisões políticas da sociedade.
A brasileira Juliana Farinaci, bióloga e doutora em ambiente e sociedade, foi uma das integrantes do painel de especialistas; ela representou o CCST/INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais no âmbito do programa-piloto de capacitação de pesquisadores em início de carreira (IPBES young fellows pilot programme).
Ela está na avaliação regional para as Américas após responder à uma chamada aberta, na qual foram selecionados seis candidatos das Américas. A candidatura teve o aval institucional do Dr. Jean Ometto, supervisor de Pós-Doutorado da candidata, e coordenador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do INPE. Ometto integra o corpo dos cientistas do IPBES como indicado pelo governo brasileiro.
Para Ometto, trazer a biodiversidade para a arena política é muito importante. “Interessante nesse Painel é ver a comunidade científica discutir com seus governos sobre biodiversidade, e a partir de demandas governamentais, para que o resultado guie as políticas públicas”, concluiu.
Para entender o IPBES
O IPBES é uma Plataforma científica intergovernamental, independente, estabelecida em 2012 pela Organização das Nações Unidas (ONU). Hoje o IPBES conta com a participação de 124 países membros, e não trata somente de questões biológicas, mas envolve também as questões sociais, econômicas e culturais imbricadas na relação humana com a natureza, pretendendo ser uma ferramenta para tomada de decisões em vários níveis. É uma instância científico-política como o IPCC é para o clima.
Uma das metas da Plataforma é a de alcançar um consenso (como grupo do sistema multilateral da ONU) sobre o estado mundial da biodiversidade, para que, então, cada país possa tomar suas decisões políticas, conforme explicou Brigitte Baptiste, diretora do Instituto Humboldt da Colômbia. “A tarefa de fazer uma avaliação da biodiversidade em escala continental e global é muito importante para que os especialistas e os países estejam de acordo sobre sua real situação, sobre as forças que a ameaçam, bem como sobre as oportunidades em sua gestão com base em princípios comuns, sejam técnicos, financeiros e políticos, para protegê-la.
Em termos práticos, a conferência foi palco para o Primeiro Encontro de Autores da Avaliação Regional para as Américas do IPBES. Isso quer dizer que nos próximos quatro anos serão apresentados diferentes produtos – até 2017, serão editadas as avaliações regionais (Américas, Ásia-Pacífico, África, e Europa), e as temáticas (polinização e degradação de solos, por exemplo); o compêndio final das Américas buscará equilibrar informações das quatro zonas continentais: América do Norte, Mesoamérica, Caribe e América do Sul, segundo informou Farinaci. Já a avaliação global será um Relatório amplo, abrangendo todos os continentes e a ser publicado até 2019.
A saber, Jean Ometto será um dos autores do compêndio americano, co-autor do capítulo “Análise integrada e transescalar das interações do mundo natural e da sociedade humana”, e Juliana Farinaci participará do capítulo “Opções para governança e arranjos institucionais para tomada de decisão dos setores públicos e privado”.
“Estou confiante de que chegaremos a produtos de alta qualidade, com capacidade de influenciar decisões políticas, e que indiquem novos caminhos e necessidades de pesquisas sobre o tema”, adiantou Juliana Farinaci.
Isabel Gnaccarini, jornalista e bolsista CCST/INPE
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